sábado, 25 de dezembro de 2010

Feliz Natal


Uma coisa verdadeiramente chata dessas datas de fim de ano, natal por exemplo; é ficar presa em casa por que boa parte da família está lá e faz muito tempo que não lhe vê, afinal, você é a sumida da família. A distante. Então eles querem saber de tudo e você precisa fazer malabarismo pra tentar atualizá-los de forma sucinta e superficial milhões de coisas que aconteceu na sua vida e que dizendo-lhes assim nunca terão idéia. Existe um abismo imenso entre as nossas realidades. O pior é que a curiosidade é toda deles. E eu desesperada quero fugir da tarefa de ter que estar presente no passado cristalizado dos meus parentes.

domingo, 31 de outubro de 2010

Baseado na Bíblia Sagrada

A fumaça que me adentra vem do mar mediterrâneo em chamas. Passa por mim a faixa de gaza, Canaã, Jerusalém, o Monte Sinai e finalmente me chega o mar vermelho. O que irão me revelar nesta longa e rápida viagem? Sei que agora eu é que sou um mar vermelho. Fumo. Trago o mapa sagrado, as terras sagradas. Eu é que sou sagrada.

Estou lembrando do teu cheiro agora. Foi apenas uma vez e não estou apaixonada, mas teu cheiro me veio assim de repente, levemente. Não saberia descrevê-lo. Precisaria te encontrar de novo para isso. São só resquícios de uma noite ousada. Daqui a pouco se vai de vez.

sábado, 30 de outubro de 2010


Você vai navegando pela noite, madrugada, sem rumo, no caminho do abismo mais nebuloso. Não se tem idéia do que está no próximo segundo. O que quer é ir. Que sede de ir! Estou solta, tão solta que qualquer coisa minimamente envolvente me pegaria e eu não faria esforço nenhum para me livrar de suas garras suaves. Vontade é meu nome. Vontade ardente. Quero um pouco mais de velocidade. Estou paralisada e ao mesmo tempo em desparada dentro de mim mesma. É tudo lamentação. É tudo inconformismo. Que saco. Que tédio! De que serve meu viço? Ah... pela noite eu vou.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Eu não me caibo, meu corpo é um sapato apertado.


Cartas para ninguém

Uma tarde numa rede funda, toda a claridade por fora, o barulho do vento forte e pesado, daqueles que só há em cidades de mar. A solidão boa, confortável embora o pensamento ande sempre em você, desejando tua presença nunca presente. Ah tarde gostosa de casa, de lar, de futuro. Ler um pouco de Machado, mergulhar num gosto de passado não vivido, porém muito bem sentido, e a tarde avançando no fundo da rede gostosa. Uma pausa para fazer bruacas e comê-las acompanhadas com café e Nara Leão. Hoje, amor flutuante, tua falta não me importa, até a saudade resolveu ser boa companheira. Estou feliz, bem com minha tarde lenta de julho, a Nara canta muito bem, sua voz é de encher o peito até que transborde, e é assim que estou agora, transbordando de algo bom, vai ver é felicidade. Felicidade daquelas que vem de vez em quando e a gente nem sabe porquê, só sente e olha pro céu.


(...)

Penso. O que será de mim? De meu peito sonhador? Talvez a vida me caiba, mas o mundo dos homens não. Já o mundo das paisagens, das coisas belas sim, pois quando as vejo olho bem dentro de mim. Me transformo em tudo que vejo. Não sei quando adquiri esta mania ou quando a percebi. Só sei que a tenho e não a domino, acontece. Sou todas as imagens que conheço. Sou simplesmente paisagem. E qual a função de uma paisagem no mundo? Só existir, estar lá em seu lugar. E é exatamente o que quero hoje, estar em meu lugar de preferência habitado só por mim.

sábado, 9 de maio de 2009

Diálogos - Pela manhã

Ela - Sabia que toda noite pego na sua mão enquanto você dorme?
Ele - Sabia. Mas eu tenho dificuldade pra dormir abraçado à alguém.
Ela - É, eu já percebi. Uma vez eu te abracei enquanto você dormia e você acordou assustado , aí me afastei.
Ele - Uma vez você falou dormindo.
Ela - Eu?!
Ele - Sim, você. Me acordou e começou a falar sem parar, eu não tava entendendo direito o que tava acontecendo, foi engraçado.
Ela - E eu disse o quê?!
Ele - Me perguntou o que ia acontecer, disse umas coisas sem muito sentido e voltou a dormir. Acho que era algo sobre a apresentação da peça que seria no dia seguinte.
Você deve ter ido dormir preocupada com isso.
Ela - Nossa, não me lembro de nada.
Ele - Pois é.
Ela - Nessa última noite enquanto você dormia e roncava bastante por sinal, eu fiquei muito deprimida e chorei até dormir.
Ele - Eu ronco tanto assim? (Eles riem.)
Ela - Não, não era isso. Não só isso (Diz sorrindo meio sem graça.) Ah você não vai entender, são muitas coisas e ... , bom quando acordei hoje de manhã tinha ficado menstruada.
(Ele só a olha sem dizer nada.)
Ela - Quer um pedaço do meu sanduíche de queijo?
Ele - Não, já comi demais.